"Nos dias plurais, a hiperatividade está garantida, tudo se reproduz em formato de festival, o ócio adquire uma forma ditada pela maioria. É o lugar do número maior. Milhões de carros transitam ao mesmo tempo, uma pessoa pode conduzir dois de uma só vez, em um estranho concerto a quatro mãos e dois volantes. Nesses dias, as pessoas se desdobram para atingir o todo, multi-instrumentistas de uma proliferação sem freio. As vogais são para o ruído o que as consoantes são para a poluição, a cacofonia está garantida. Nesses dias, fala-se da terceira pessoa do plural, um novo organismo institucional que garantirá um colapso brutal de quem elege a prática masoquista contínua.
Nos dias plurais, as perguntas proliferam. A indústria farmacêutica cresce com a transformação dos cidadão em consumidores pelo vício e não pela necessidade. As conversas telefônicas são impossíveis, somente a escrita comunica.
Nesses dias, polifonia é tão alta que ninguém pode distiguir uma só voz.
Inadequados para o diálogo, abusamos das anotações.
No plural, os jogos em comum tornam-se quase perfeitos, um código erotômano que acontece alegremente."
Dias plurais são reconhecidos pelos excesso de energia. Positiva e negativa. Uma vontade estranha de falar tudo o que se quer, mesmo sabendo que não vai ser ouvido aquilo que se deseja. Nesses dias, as pessoas têm todas as respostas na ponta da língua, é quase impossível acompanhá-las pelos pensamento. As crianças crescem rápido, os jovens vivem muito e os velhos sabem demais.
A pluralidade é perfeita. Fala-se demais para muitos e fala-se ao mesmo tempo com os demais. Ouve-se o menor dos ruídos enquanto todas as músicas prediletas tocam.
O amor multiplica-se. Os Dons Juans conquistam aos montes nesses dias e os românticos - ah! coitados dos românticos - o amor deles fica no plural e são capazes de oferecer todas as rosas mais vermelhas em um único beijo à amada. Dias plurais são bons para declarações e relações. Mas esses dias também são sucetíveis para tempestades que fazem dos rômanticos, míseros piegas coitados e dos conquistadores, um bando de comedores. Raivas, brigas, discussões, foras. Todas no plural.
São dias em que a sensibilidade pluraliza-se.
É bom manter-se alegre, a pluralidade gosta da felicidade. Coisas boas, alegres, engraçadas, felizes.
A tristeza é singular. Não há palavras para ela. Nem nos dias plurais nem nunca. A tristeza é única.
Tudo no plural, a vontade é tanta que chega a transbordar.
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