1.12.10

rotina.

dorme, sonha coisas comezinhas, acorda, dorme de novo, acorda, dorme, acorda, dorme, acorda em cima da hora, tropeça, põe a primeira roupa, lava o rosto, escova os dentes, creme no cabelo mais cacheado do que nunca, o cabelo está diferente do que estava ontem, pragueja três vezes seguidas, pega a bolsa, celular, escolhe um álbum no ipod, desce as escadas, lembra que é preciso colocar o tênis, tropeça, volta ao quarto, coloca o tênis, desce as escadas, pega as chaves, abre a porta, manda o cachorro ir pra lá, ele não vai, abre o portão, manda ele ir pra lá, ele não vai, briga com o cachorro, ele fica triste, fecha o portão, o cachorro vem se despedir, acaricia o focinho dele e se despede, fizeram as pazes, vai em direção ao trem, aperta os olhos em proteção ao sol, vai pra sombra, anda, anda, anda, dá bom dia pro vizinho que vê todos os dias, passa pelo drogado na esquina, anda, tropeça, o vira-lata da estação dorme bem no meio do caminho, desvia, tropeça, acabou a passagem no bilhete, vai pra fila, pega a carteira, cai tudo no chão, vergonha, abaixa e pega tudo do chão, pega uns trocados, compra um bilhete só de ida, pensa "passagem só de ida, quem me dera se fosse verdade", passa da catraca, o trem está vindo, corre, atraso de quase meia hora, a plataforma está cheia, entra no trem, está cheio, incômodo, ar condicionado forte e com cheiro de hospital, as paredes do trem também lembram um hospital, espirros, praguejos e xingamentos mentais, está frio, fecha o zíper da blusa listrada, aumenta o som da música pra se isolar do mundo, olha pra fora, o céu está bonito, passa o tempo, o trem está muito cheio, vai pra porta, desce sete estações depois, tropeça na hora de sair do trem, alguém ri, vergonha, está quente e abafado, espirro, anda, anda, sede, esqueceu a garrafa de água em casa, anda, o tempo está fechando, o céu está cinza e vai chover, passa no bar que não é mais o bar verde de antes, compra um pão de queijo e dois toddynhos, anda, entra no prédio, cumprimenta a recepcionista atrás do balcão, espera o elevador, atraso de 45 minutos, o elevador demora e um deles está em manutenção, elevador chega, elevador cheio, evita se olhar no espelho, 5º andar demora a chegar, chegou, tropeça na hora de sair do elevador, vergonha, entra no escritório, está frio, ar condicionado no máximo, 3 espirros seguidos, vai pra copa, deixa um dos toddynhos na geladeira, desliga a luz da copa, fecha a porta, suspiro.

abre a porta, vai pra mesa, está bagunçada, tem recados e pedidos da chefe, alguém pede uma ajuda, o backup do servidor deu erro e precisa começar tudo de novo pela segunda vez, a colega do lado não dá bom dia, alguém faz alguma piada sem graça, a colega da frente pergunta se está de mal humor, responde que sim, como toda as manhãs, ela suspende as sombrancelhas e cochicha algo com a colega do lado, tem três (ou quatro) trabalhos com prazos apertadíssimos, a chefe ainda não chegou, cochichos pelo escritórios, vai ao banheiro, lava as mãos e joga uma água no rosto, ainda não acordou, sai do banheiro, enche um copo d'água, vontade absurda de tomar um litro de café, aguenta a vontade pois isso ocupa a cabeça, volta pra mesa, toma o toddynho e come o pão de queijo, alguém pede mais alguma coisa, muito trabalho inútil, passa o tempo, é a pior hora do dia em todos os sentidos, em poucas horas já bate o cansaço, já está há horas com a mão no mouse, a chefe chega, avisa que os prazos apertaram-se mais ainda, a chefe solicita alterações, atrasa o trabalho, vontade de café, aguenta, alguém pede algo mais, trabalha, sente aquela coisa que vem sentindo desde que, não importa mais, vontade de tomar café, hora do almoço, todo mundo sai, silêncio, agora dá pra trabalhar, em uma hora adianta muito trabalho, todo mundo chega, é hora do seu almoço, celular, ipod, cartão, crachá, sai correndo pra fora do escritório, chama o elevador, elevador demora muito, sai do prédio, está quente, espirros isolados, esqueceu de trazer os boletos das contas para pagar, o vencimento era hoje, já era, vai pagar juros de um dia porque não volta naquele escritório nesse horário, escolhe um álbum no ipod, anda, anda, anda, vontade de café, aguenta, anda, anda, anda, fizera uma promessa de sempre almoçar certo, anda, passa em um restaurante, come pouco, anda, anda, já deu o horário, caminho de volta, peso, entra no prédio, cumprimenta a recepcionista, chama o elevador, elevador demora, tropeça pra entrar, vergonha, ninguém viu, está vazio, evita o espelho, 5º andar demora, olha o espelho com o rabo do olho, não agrada o que vê, sai do elevador, toma cuidado pra não tropeçar no mesmo lugar, pensa "por que é que tenho tropeçado tanto?", sabe a resposta, está na escrita nos olhos, suspiro rápido, entra no escritório, está frio, tosse e 2 espirros seguidos, alguém faz uma piada sobre os espirros, senta na mesa, 3 ou 4 discutem sobre a situção do rio de janeiro ao lado de sua mesa, insuportável, pega o estojo de higiene pessoal, vai ao banheiro, fala com ninguém, tropeça no caminho, alguém faz alguma piada sobre isso, entra no banheiro, não liga a luz, escova os dentes, faz xixi, lava as mãos e o rosto, não encara o espelho, abaixa a tampa do vaso, senta, suspiro.

sai do banheiro, vontade de tomar café, aguenta, volta pra mesa, alguém solicita algo em nome da chefe, trabalha, trabalha, algumas piadas, trabalha, prazo, trabalha, mais alterações, trabalho perdido, final da tarde, sente aquela coisa de novo com muito mais força, lembra do café, vontade de tomar café, aguenta, vai na copa, pega o toddynho, volta pra mesa, trabalha, entrega trabalho, solicitação de um novo trabalho, mais um trabalho para o dia seguinte, a colega da carona avisa que já deu o horário, pede para esperar mais 10 minutos, a colega apressa, não quer pegar trânsito, salva os arquivos, arruma o backup de tudo, dá uma arrumada na mesa, a colega do lado mal conversa, vai no banheiro, lava as mãos e o rosto, debruça sobre a pia, arrenpedimento por sempre aceitar a carona, a motorista é o seu oposto em todos os sentidos possível, ela te adora, suspiro rápido, sai do banheiro, tropeça, alguém ri, você ri junto e se despede, arruma as coisas e a mochila, pega o crachá e sai do escritório, a colega-motorista acompanha, falando fino e cantando sem parar, chama o elevador, elevador demora, elevador chega, evita o espelho, sente aquela coisa de novo, vontade de café, aguenta, vontade de cigarro, aguenta, sai do prédio, compra um saco de pirulitos na doceria, coloca um pirulito na boca, coloca o resto do saco na mochila para os dias seguintes, andam em direção ao carro, andam, andam, entra no carro, ela liga o rádio antes de colocar o cinto, ela passa todas as estações a cada 3 minutos, trânsito, ela fala fino e canta tudo, pragueja contra o trânsito e contra as motos, puxa conversa, simpatia barata, simpatia falsa, conversa nonsense, sente aquela coisa forte de novo, vontade de cigarro, aguenta, coloca um pirulito na boca, encosta a cabeça no vidro, simpatia barata, suspiro, a viagem é longa, outro suspiro.

menos de uma hora, porta de casa, beijo de despedida, pega a mochila e a blusa, sai do carro, abre o portão, pragueja contra as crianças fazendo um barulho horrível na casa da frente, o cachorro vem dar as boas vindas, acaricia a cabeça dele, ele não guarda remorso, você também não mas você lembra que ele é sempre teimoso, o cachorro faz festa em todo o quintal, você sorri, primeiro sorriso sincero do dia, lava as mãos, faz alguma gracinha com o cachorro, entra em casa, cheiro de comida, sem fome, vontade de café, sobe pro quarto, pega uma muda de roupa velha adorável, pega a toalha, vai pro banheiro, esqueceu de tirar o tênis, sai do banheiro, tira o tênis, tropeça, vergonha, volta ao banheiro, encara o espelho, está bonita, está linda, mas ainda não gosta do que vê, encara o espelho, o problema não é beleza, não é cabelo, não há problema nenhum, toma o banho, surgem milhões de ideias para desenhos e histórias, guarda na memória, sai do banheiro, desce pra cozinha, janta sozinha, pouca comida no prato, sem fome, é noite, sente aquela coisa de novo, daria tudo por um café e um cigarro, aguenta, toma um suco ou qualquer coisa que tenha uma cor agradável, arruma a cozinha, enche o copo novamente de suco ou qualquer outra coisa com a tal cor agradável e volta pro quarto, o pai assiste e conversa com a televisão na sala, passa direto, não fala com ele, ele já não conversa direito com você, a mãe assiste televisão quase que no último volume, senta na cama, coloca os fones, escolhe um artista, aumenta o volume, a mãe não tenta mais puxar conversa, arruma algumas músicas, troca algumas poucas palavras com alguém, sente aquela coisa de novo com mais força do que nunca, café, aguenta, termina de tomar o suco, escuta música, desenha, escreve, faz algum trabalho pessoal, fica no deviantart vendo desenhos lindos ou horríveis, lê algum texto interessante, começa a ver um episódio de algum seriado, não tem mais paciências para vídeos, fica de saco cheio, volta a ouvir música, sente a coisa de novo, vontade de café, a coisa não passa, pensa no café, pensa na vontade de café, a coisa não passa e tá ficando mais forte, força um sono, desliga o computador, vontade de ouvir mais música, força um sono, sente a coisa que não passa, vontade de cigarro, vontade de café, suspiro.

dorme, sonha coisas comezinhas, dorme de novo, acorda --

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