28.7.09

Teoria da Expressão da Vontade.

Essa teoria explica a diferença entre as seguintes frases:

"Estou com vontade de dançar música."

"Estou com vontade de música"

Quando coloca-se um verbo entre o sujeito e a palavra 'vontade' a frase e todo seu sentido torna-se limitado e dependente do verbo. No caso, expressa-se apenas a vontade de dançar. E se existir outras vontades? O que mais pode se expressar com a música? O que mais infinitas coisas pode se fazer com a música?

Para essas infinitas expressões, não usa-se o tão limitado verbo.



Fim da viagem da maionese.

15.7.09

pensamentos acorrentados

o normal mesmo é falar demais. ser assim, igual a maioria delas, que fala muito. existe assunto pra tudo, toda hora, em qualquer lugar. não é preciso muita atenção para perceber tropeços nas palavras, escritas e faladas. dislexia. gaguejo. é tudo muito rápido. sem querer. o normal é falar demais.

oi, esse é meu normal. às vezes. ou não. acho que sim. esse sim é o meu normal.

Como é mesmo aquela expressão sobre pensamentos acorrentados? Ou é sobre pensamentos-corrente...? É uma frase daquelas que faz a gente respirar fundo. Esqueci as palavras certas. É. Tão linda, de fazer suspirar. Lembro até de quem havia alguém comigo que não entendeu a frase e eu expliquei como se eu tivesse feito a expressão. Não importa quais as palavras exatas, lembro da intenção de quem escreveu. Se eu for explicar isso falando, passo meia hora tagarelando em disparate. E muito provavelmente, quase ninguém vai entender. Talvez entendam se eu disser quem escreveu ou então as palavras exatas. Era sobre uma sensação constante de ''suspensão" de tudo e que o autor nunca conseguiu explicar isso até começar a escrever, pois o ato da escrita fazia com que seus pensamentos "saíssem" dele e fosse pro papel e, assim, ele se sentia mais real, mais pé-no-chão. Tudo isso porque a frase dizia algo tipo que nossos pensamentos acumulados transformam-se em correntes e prendem nossa alma. Quando pensamos demais esses tais pensamentos, nos sentimos suspensos, pendurados. Foi isso que achei bonito.

21.6.09

dias plurais

"Nos dias plurais, a hiperatividade está garantida, tudo se reproduz em formato de festival, o ócio adquire uma forma ditada pela maioria. É o lugar do número maior. Milhões de carros transitam ao mesmo tempo, uma pessoa pode conduzir dois de uma só vez, em um estranho concerto a quatro mãos e dois volantes. Nesses dias, as pessoas se desdobram para atingir o todo, multi-instrumentistas de uma proliferação sem freio. As vogais são para o ruído o que as consoantes são para a poluição, a cacofonia está garantida. Nesses dias, fala-se da terceira pessoa do plural, um novo organismo institucional que garantirá um colapso brutal de quem elege a prática masoquista contínua.

Nos dias plurais, as perguntas proliferam. A indústria farmacêutica cresce com a transformação dos cidadão em consumidores pelo vício e não pela necessidade. As conversas telefônicas são impossíveis, somente a escrita comunica.

Nesses dias, polifonia é tão alta que ninguém pode distiguir uma só voz.

Inadequados para o diálogo, abusamos das anotações.

No plural, os jogos em comum tornam-se quase perfeitos, um código erotômano que acontece alegremente."

Dias plurais são reconhecidos pelos excesso de energia. Positiva e negativa. Uma vontade estranha de falar tudo o que se quer, mesmo sabendo que não vai ser ouvido aquilo que se deseja. Nesses dias, as pessoas têm todas as respostas na ponta da língua, é quase impossível acompanhá-las pelos pensamento. As crianças crescem rápido, os jovens vivem muito e os velhos sabem demais.

A pluralidade é perfeita. Fala-se demais para muitos e fala-se ao mesmo tempo com os demais. Ouve-se o menor dos ruídos enquanto todas as músicas prediletas tocam.

O amor multiplica-se. Os Dons Juans conquistam aos montes nesses dias e os românticos - ah! coitados dos românticos - o amor deles fica no plural e são capazes de oferecer todas as rosas mais vermelhas em um único beijo à amada. Dias plurais são bons para declarações e relações. Mas esses dias também são sucetíveis para tempestades que fazem dos rômanticos, míseros piegas coitados e dos conquistadores, um bando de comedores. Raivas, brigas, discussões, foras. Todas no plural.

São dias em que a sensibilidade pluraliza-se.

É bom manter-se alegre, a pluralidade gosta da felicidade. Coisas boas, alegres, engraçadas, felizes.

A tristeza é singular. Não há palavras para ela. Nem nos dias plurais nem nunca. A tristeza é única.

Tudo no plural, a vontade é tanta que chega a transbordar.