27.7.10

escritórios.

pessoas que apenas trabalham ou passaram muitos anos trabalhando em escritórios costumam ter características bem semelhantes. são fechadas e extremamente dependentes de alguma coisa dita comum (salário, família, chefe, computador, carro, sexo). chegam numa dependência tão radical, que algumas chegam a ter problemas físicos caso fique em abstinência da tal coisa por algum motivo. é como se fosse um vício, uma 'droga', e é por causa dessa 'droga' que eles ainda tem forças de trabalhar todos os dias em um mesmo escritório por anos, por mais que passem o dia falando coisas do tipo 'ai, não aguento mais esse lugar'' ou 'vou sair daqui!'. só falam da boca pra fora porque quando acaba o expediente, eles voltam ao seu(s) vício(s) particulares, retomam as forças e no dia seguinte vão trabalhar.

cheguei a pensar que isso acontece em qualquer tipo de emprego, não só em escritórios, mas é mentira. escritórios são como caixas com vários seres vivos dentro. escritórios tem o poder de aproximar todas as pessoas através da convivência, por mais que não se queira. a aproximação não é como em qualquer outro emprego, é uma coisa que vai se tornando cada vez mais íntima e, quando menos se espera, todo mundo tem o número do seu cpf e sabe o nome do seu primeiro cachorro, por mais que não se tenha dito nada. é a convivência lado a lado que provoca uma 'intimidade profissional', todos os dias, todo mundo sabe como você senta na cadeira, como você arruma o cabelo, quantas vezes você vai ao banheiro ao dia, qual o horário do seu almoço, qual é a marca do seu celular, qual a cara que você faz quando passa mal ou quando está estressado. com o passar dos anos, seu chefe te conhece melhor do que seu marido (entenda como quiser).

conheço gente que gosta disso, conheço que deteste, conheço quem não se importa.

não importa o cargo nem a profissão. o fato de ficar o dia inteiro na frente de um computador, trabalhando (ou não) em um lugar fechado, com algumas pessoas ao redor fazendo a mesma coisa, é desgastante com o tempo. se não se apegar a algo externo (vícios) acho meio complicado de aguentar, por mais que seu trabalho no escritório seja fácil.

a maioria dos funcionários do escritório onde eu trabalho está lá há, no mínimo, uns 3,4 anos. tem alguns que estão há mais de 10. com exceção de 1, todos os outros sempre trabalharam em escritórios no empregos anteriores. eu listei mentalmente qual a dependência de cada um deles e me impressiona um pouco a força com que todos eles se apegam a essas coisas. é quase inacreditável.

no escritório onde eu trabalho atualmente tem poucos funcionários. como disse, a maioria é velho de casa e são completamente apegados aos seus respectivos vícios. a mulher do financeiro, por exemplo, está lá há 12 anos, dependente da sua aparência física e de sexo e, às vezes, é sempre meio constragedor ouvi-la falar no celular. a mulher da área industrial, viciada na família e bem estar e costuma ficar desesperada quando se atrasa para o almoço com o marido ou quando precisa ir buscar a filha na escola. a faxineira está há anos no escritório e fala sempre como está cansada e sobre sua vontade de ganhar dinheiro para ela e para filha. o cara do rural trabalha lá há 4 anos e é apegado ao futebol e ao orgulho de seus filhos homens e, como a faxineira, passa o dia falando sobre isso. a do comercial e minha colega de marketing trabalha nesse escritório há mais de 10 anos, é apegada à própria vontade que ela tem de viver e ao nosso presidente. ela flerta com ele enquanto ele encosta em sua cintura, como se ninguém percebesse. isso faz com que ela venha aqui e trabalhe ativamente todos os dias.

escritórios são pior que drogas.


minha conclusão é que devia ser obrigatório em todos os escritórios ter janelas que ocupassem, no mínimo, metade da altura da parede para uns ficarem olhando pro céu e não pro computador, enquanto outros se jogariam das mesmas.

23.7.10

oh, fukin' ego.

o que quero neste post é expor o MEU maldito ponto de vista sobre pessoas egoístas e egocêntricas. já li pontos de vistas de outras pessoas sobre isso e não concordo com mais da metade delas. sim, imparcialidade rula aqui.

e nota rápida antes de começar: tudo o que vem a seguir é totalmente baseado em pessoas reais do meu convívio diário ou que são bem próximas de mim de alguma forma, pois só assim consigo conhecê-las melhor e, consequentemente, analisá-las em conjunto. eu não invento essas coisas. (só algumas haha not.)

enfim, ok, na minha opinião:

pessoas egoístas agem sem pensar e querem tudo pra si mesmas e com retorno imediato. nem sempre são espertas e calculistas. mal educadas, ciumentas, desejam quase que exclusivamente coisas materiais e acham que é daí que vai sair a felicidade delas. pensam primeiro na COISA que elas querem. sempre. geralmente, como disse, essa 'coisa' é algo material, tipo, roupas, carro, casa, dinheiro, uma viagem, um diploma, um beijo, ou uma pessoa que esteja afim e tal (geralmente essas 'coisas' tem alguma relação com status pro egoísta em questão). só existe um tipo de egoísta que é esse que descrevi.

regra geral: todos passam por cima de tudo, muita vezes de maneira bem burra, pra conseguir algo material. e todos tem necessidade de chamar a atenção e causar inveja.

já as pessoas egocêntricas são geralmente mais espertas, calculistas, planejam o caralho a quatro pra conseguir o que elas querem. dos egocêntricos mais hardcore que eu conheço, a maioria em peso prefere abrir mão do seus desejos materiais pra estar num lugar ou ficar de uma forma que agrade a si mesmo; prezam muito mais pelo próprio bem estar. são pessoas observadoras e sabem (ou pelo menos acham que sabem) o que fazer pra conseguir o que querem. são icebergs, são exageradamente exagerados por dentro.

muitos dos egocêntricos desse tipo são também egoístas, mas não é regra geral.

quando algum egocêntrico coloca algo na cabeça, não importa o que seja, ninguém tira isso dele. existem 3 tipos de egocentrismo que eu consegui perceber - até hoje:

1. egocêntricos/egoístas: são os 'menos' egocêntricos que tem tanto traços egoístas quanto egocêntricos; a fusão desses traços provocam uma confusão de ego, de objetivos pessoais, de sentimentos e coisas do tipo e, por isso, costumam ser melancólicos. a maioria não demonstra isso e alguns tem uma esperança (ou uma flexibilidade) de mudar um dia;

2. egocêntricos profundos: são os de 'nível' maior, que são puramente egocêntricos, geralmente, não possuem muitos dos traços egoístas e, quando percebem algum daqueles traços egoístas, fazem de tudo para escondê-lo dos outros. se mostram carismáticos, quando no fundo são inflexíveis: nada e ninguém consegue mudá-los a não ser o próprio;

3. egoístas 'coitados': que acham que são os únicos que merecem atenção e sempre se fazem de vítima. mártires sem causa. costumam ser 'parasitas' de outras pessoas que não são nem egoístas e nem egocêntricas e não tem remorso por isso.

(lembrando sempre que eu não vejo problemas em julgar as características dos outros das quais eu não concordo, com respeito e nível. e ironia, às vezes. haha not again. e lembrando também de que não existem duas pessoas iguais, só semelhantes.)


sobre egocêntricos/egoístas vs. egocêntricos profundos.

esses de nível mais 'baixo', eu acho que podem mudar um dia e não serem mais assim - não significa que irão MESMO mudar, mas que existe a possibilidade - pois são mais flexíveis sobre o

próprio ego do que os egocêntricos mais profundos. os egocêntricos/egoístas conseguem seu bem estar com um pouco mais de facilidade pois tendem a não almejar grandes coisas e aceitar situações parecidas com a que desejam (pensam do tipo: 'tá, não consegui o que EU queria pro MEU bem, mas consegui algo próximo pra MIM, então EU vou ficar por aqui, por enquanto, mas EU vou ficar bem, por enquanto'. são temporários. por isso, os 'baixos' tendenciam a ser mais melancólicos e acomodados do que os profundos. os egocêntricos profundos só saem do lugar que estão se tiverem a certeza absoluta de que conseguiram exatamente o que queriam e só saem do lugar que estão quando tem a certeza absoluta que vão ficar do jeito que querem ficar. por isso, os mais 'baixos' dificilmente estão no lugar ou do jeito que queriam e parecem, para os outros, que são inconstantes, mutantes emocionais e tudo mais, quando que na verdade estão sempre, eu disse SEMPRE, pensando e desejando onde e como gostariam de estar. já os profundos são mais extremistas nesse ponto (pelo menos os que eu conheço): ou estão onde não queriam estar, planejando pra ir EXATAMENTE para onde querem estar, ou já estão EXATAMENTE onde queriam estar e ponto final para o mundo. não são acomodados e costumam ser menos tolerantes às próprias vontades, em relação aos egocêntricos mais 'baixos'. é tipo 'ou é do jeito que eu quero ou é nada.' como disse, os egoístas/egocêntricos são mais flexíveis nesse ponto.

chamar a atenção das pessoas em volta e ciúmes não é regra geral para nenhum desses 2 tipos. existem exceções apenas, acredito, eu nunca conheci uma exceção.

possessividade, ironia, melancolia é regra geral para os egocêntricos 'baixos'. até onde consegui conhecer, são TODOS melodramáticos e sentimentalóides, porém TODOS tendenciam a racionalizar os sentimentos e emoções. o que soa muito contraditório para mim, pois não faz muito sentido alguém que é movido a emoções ficar racionalizando tudo, certo?

e TODOS os que eu conheci desse tipo também tem tendência a ser solitários emocionalmente e/ou antissociais e também tendenciam a chorar 'com força', ou seja, choram com raiva misturada com tristeza. aquele choro que faz a cabeça doer igual a uma ressaca. eu não sei explicar em palavras o porquê dessas semelhanças nas pessoas assim.

(e, claro, eu estou automaticamente agora tentando teorizar e achar uma resposta racional pra essas duas últimas coisas e blá blá blá)

a regra geral pros egocêntricos 'profundos' é que todos tendem a ser estrategistas e calculistas. TODOS racionalizam tudo. até onde percebi até hoje, não são sentimentais, porém TODOS me parecem ser carentes por carinho sincero, e também acho isso bem contraditório, dadas as outras características. nenhum deles demonstram isso.

são todos inteligentes e espertos de alguma forma, dotados de uma malícia extrema. todos são do tipo que sabem conversar (que conquistam pela conversa), sociáveis e simpáticos. um olhar um pouco desatento nem percebe nada disso. dos caras desse tipo que eu conheci, são TODOS do tipo que são conhecidos como 'o menino mais lindo da escola' ou 'o cara mais cobiçado da festa', conquistam a menina que quiserem. dentre as meninas desse tipo, todas, sem exceção, tendem a uma racionalidade e um controle meio estranho sobre os próprios sentimentos (digo estranho porque nunca entendi isso direito). são do tipo 'a menina que gosta do cara só na hora que ela quer' ou 'é a mulher que sabe muito bem o que quer e dá pra quem quer dar'. das garotas que eu tive mais contato desse tipo, todas tem um histórico de coração partido - tanto delas mesmas quanto de quem gostou das mesmas - o que eu também acho contraditório: se elas sabem o que querem, porque ficam de coração partido? enfim.

(engraçado, achei coisas contraditórias nos dois tipos...)


os egoístas 'coitados'

dos egocêntricos 'coitados' eu percebi que estão as pessoas mais velhas que eu conheço. acho que tendem a reter um pouco do egoísmo, pois egoísmo reflete uma personalidade forte - exatamente o contrário do que um egocêntrico 'coitado' quer demonstrar. ao contrario desses tipos aí de cima (que prezam MUITO pelo bem estar e tal) estes egocêntricos 'coitados' só se sentem bem quando estão na posição de vítima, porém tem controle da situação. exemplo? uma pessoa que não trabalha, não estuda, não pensa, não faz nada, quer muita coisa material (característica egoísta), sabe que não vai conseguir se não fizer nada, se faz de coitada por tudo isso e parece que pede uma atenção tremenda para que alguém a ajude. aí se alguém tenta ajudar, ao invés dela aceitar a ajuda, ela, além de negar, ainda controla a situação de forma que a pessoa fique sempre a tentando ajudá-la, que fique com dó, que dê atenção pra ela e é nessa hora que o egoísta 'coitado' se aproveita e consegue, ou tenta conseguir, tudo o que quer. e sim, eles conseguem. se alguma pessoa externa nega a tal atenção, o egoísta em questão antipatiza.

chamar a atenção de forma calculista, ciúmes, remorso, sentimento de vingança é regra geral aqui. concrentizar esses sentimentos é a característica principal de TODOS eles.



e ah, olhar nos olhos de uma forma específica é regra geral para todos os tipos de egocentrismo. TODOS tem um olhar profundo e analítico. TODOS. claro que nem sempre ficam olhando constantemente nos olhos dos outros e também existem outras pessoas que não são egocêntricas ou egoístas, mas também olham nos olhos. o que quero dizer é que existem tipos diferentes de olhar e é assim que dá pra começar a reconhecer a personalidade de alguém. escrevo sobre isso outra hora.



minhas conclusões são:

- tendencio a me aproximar com mais facilidade de pessoas que são egocêntricas e eu diria que 95% das pessoas que estão (ou algum dia estiveram) próximas de mim de algum forma, são todas egocêntricas;

- tenho uma simpatia quase que automática por egocêntricos/egoístas nível mais 'baixo';

- tenho atração por egocêntricos 'profundos';

- mais da metade da minha família faz parte dos egocêntricos 'coitados'. hahaha



questões pessoais que ficaram em aberto:

1. encontrei contradições sobre emoção e razão enquanto descrevi sobre egocêntricos e não consegui explicá-las.

2. motivo pelo qual não levo egocêntricos 'coitados' a sério.

3. gostaria de uma explicação sobre o porquê que eu fico sempre afim de egocêntricos 'profundos'. tá cada vez pior.

21.7.10

adega de deus

(ou sobre família, bebidas e missas)

toda minha família sempre foi católica fervorosa, do tipo que vai na igreja todo domingo, que participa ativamente de grupos comunitários, paga o dízimo e tem o telefone do padre para 'emergências' (q-). durante minha primeira infância, meus Pais praticavam muito a religião. com o tempo minha Mãe se afastou um pouco, porém a fé católica dela nunca se perdeu nem por isso, nem por nada. ela sempre nos obrigou a ir à igreja. já meu Pai foi se tornando cada vez mais apegado ao catolicismo, faz muita questão de missas, pai-nossos, promessas e padroeiros. minha Irmã costumava ser a líder dos grupos mais jovens da igreja do bairro. meu Irmão, é o querido entre as beatas e tiete da bandinha das missas. minha casa cheira tanto a fé, com imagens e versículos espalhados nos cômodos que, às vezes, sinto que fui criada em uma capela.

quando crianças, íamos todos os domingos passar o dia na casa do meu Tio-Avô, depois da missa, claro. meu Pai, minha Mãe, eu, minha Irmã e meu Irmão. na época, tinha uns Primos que adoravam uma cerveja e tenho na memória as cenas dos meus Pais bebendo com eles, principalmente meu Pai, que bebia bastante e ficava bem afetivo quando o álcool começava a subir, mas mesmo bêbado ele tinha dificuldade em demonstrar afeto. um dos Primos também ficava afetivo, mais do que meu Pai, e conseguia demonstrar muito bem. entenda como quiser. já minha mãe, se limitava ao vinho, ela nunca foi muito de cerveja. uma taça era suficiente para que ela já ficasse meio tonta, feliz e carinhosa e, como meu Pai, também não demonstrava essas 'fraquezas alcóolicas'. ela costumava a falar cada vez mais alto e ficar cada vez mais promíscua a cada taça de vinho finalizada.

todos católicos fervorosos.

meus Irmãos e meus Primos passavam o dia e a tarde inteira brincando, sem parar. meu Irmão gostava de passar o dia jogando futebol com os Primos da idade dele enquanto minha Irmã, já não mais tão criança, ficava com nossas Primas mais velhas, falando sobre esmaltes e cabelos e, às vezes, jogando banco imobiliário ou stop no quarto. eu, que nunca soube chutar uma bola sem tropeçar e que odiava pentear o cabelo (ainda odeio), pairava entre as duas turmas e não ficava mais de 15 minutos ao lado de algum dos meus Primos ou Irmãos. às vezes, eu ia para junto dos adultos, automaticamente atrás de minha Mãe, talvez por ter passado a primeira infância muito, mas muito apegada à ela. quando ela falava mais alto, quase gritando e rebolando, eu tapava meus ouvidos e me afastava, assustada. vozes altas sempre me perturbaram. eu ficava para cima e para baixo, tropeçando sem parar e guardando automaticamente todos os detalhes da casa na memória. isso cansava.

cansa, ainda.

quando anoitecia, ficávamos as estirados naqueles sofás, as crianças sujas, suadas e cansadas, junto com nossas Primas, já adolescentes, lindas e vaidosas. todos nós começávamos sempre a conversar sobre qualquer coisa e ficávamos falando, devagar, baixo tom, cansados, por horas. era minha parte favorita do dia e foi nessa época em que eu cheguei a conclusão que conversas me dão um extremo prazer. e então terminava o programa do faustão, com as pegadinhas e ríamos. e começava o fantástico e assistíamos todos juntos, conversando, ninguém prestava atenção, mas a televisão continuava ligada. quando algum aldulto - bêbado - vinha lá da varanda ver se 'as crianças estavam bem' nós só dizíamos 'estamos assistindo só.' e só.

sinto o cheiro forte de caipirinha e cerveja toda vez que vejo o faustão.

quando começava o sai de baixo, meu Pai e alguns Tios já começavam a agitar pra ir embora e segurar mais minha mãe pelos ombros. geralmente meus Irmãos e alguns dos Primos já estavam dormindo no sofá e eu estava olhando pro alto pensando como eu odiava ir pra escola, especialmente às segundas-feiras. meus Pais começavam a se despedir dos parentes e todos se cumprimentavam com um fervor tão forte, mas tão forte que chegava a me assustar algumas vezes. eles diziam coisas do tipo 'que deus abençoe seus filhos!', 'vá embora com cristo, hein!', 'vai com deus!' todos bêbados, afetivos e com cheiro forte de falsidade com cerveja.

com o passar do tempo, fomos crescendo e essas visitas dominicais foram se perdendo e chegamos a passar anos sem ir lá. só revi esses meus Primos e Tios, na época em que minha Tia-Avó morreu, bem velhinha, e Tio-Avô ficou extremamente doente logo em seguida da morte dela. eles eram casados há umas 6 décadas e todo mundo percebia que ainda rolava um clima entre eles. até eu percebia. com essa morte (alzeimer, derrame e mais não-sei-o-quê) a família ficou triste, achou horrível a morte dela e a doença terminal do meu Tio-Avô e todas essas coisas amargas que a morte proporciona para a maioria das pessoas. eu, pelo que conheci desses meus Tios, achei (e ainda acho) que toda essa situação foi uma das coisas mais românticas que já vi na minha vida: a morte dela estava muito óbvia e ninguém queria nem pensar sobre isso, porém meu Tio foi esperto e pensou muito sobre isso, que ia perdê-la e tal, e também fez com que ela pensasse sobre o fim de tudo. o bonito é que foi assim que eles aproveitara muito bem os últimos dias dela viva. eu nunca tinha visto um casal que se olhava de um jeito tão apaixonado como eles dois. quando ela morreu, meu Tio não chorou, ele dizia que 'já sabia disso e que já tinha chorado tudo o que tinha pra chorar no ombro dela quando viva' e ao invés de ficar rezando terços de joelhos, como o resto da família ficou, ele enfraqueceu e adoeceu, três dias depois, estava internado e ficou no hospital por meses. quando ele voltou para casa, fomos visitá-lo. ele está velho, mais de 80 anos e fraco, muito fraco. ele diz poucas palavras. disse que 'está cansado e com saudades, mas nada que um experiente saiba como lidar'.

depois disso, nunca mais o revi.

e depois dessa época, meu Pai se tornou uma barata de igreja. quase um padre. parou de beber, parou com palavrões, parou com as afeições momentâneas, começou a rezar terços pelos cantos e começou a escutar ao padre Marcelo todos os dias, às 6h e começou a julgar tudo e todos. minha Mãe...bom, minha Mãe parou de vez de ir para igreja, ainda é católica e não me lembro da última vez em que ela saiu de casa.

meu Pai sempre manteve uma parte da estante da sala destinada às suas bebidas favoridas. tem dreher, 51, jurupinga, vinho tinto e branco, champagnes ganhados. quando eu mais nova, ele costumava temperar a comida com uísque e ficava com um sabor maravilhosos. ele nunca mais fez isso depois que a religião lhe subiu à cabeça. aliás, essas bebidas estão intactas há anos com uma imagem da virgem maria sobre a porta que as guarda. eu chego a achar muito engraçado. eu achava que uma hora dessas alguém ia mudar essa parte da estante e, como eu queria lembrar disso para sempre, há alguns anos, tirei uma foto dessa composição contraditória.

eu só não imaginei que ninguém ia mexer ali. a imagem continua no mesmo lugar há...7 ou 8 anos? enfim, há anos. as bebidas ficam lá, abençoadas, ninguém ousa bebe-las, ninguém ousa jogá-las fora, ninguém aqui nem ousa tocá-las. e elas ficam lá, e meus Pais ficam aqui, escondidos e acomodados sob o virgem manto azul.

tudo o que eu mais queria agora é uma comer algo caseiro temperado com uísque, assistindo às pegadinhas do faustão, estirada no sofá, num domingo católico qualquer.


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meu nome é Chickey Whiskey e veio em nome do planeta Mickey. leve-me ao seu líder.

- hey!

20.7.10

insistir

(ou A Arte de Ser Otimista)

Insistir: in.sis.tir, do latim insistĕre. v. intransitivo e transitivo indireto. Teimar, persistir.

insistir nada mais é do que ter esperança naquilo que se quer. ter esperança nada mais é do que uma forma de ser otimista. pessoas que não insistem geralmente são as pessimistas: ou não conseguem ou simplesmente não gostam de 'correr atrás' do que querem. ser pessimista é algo incontrolável, assim como ser otimista. já se nasce pessimista ou otimista e, na minha opinião, não tem meio termo.

pessimistas são mais julgados pelos outros com frases do tipo 'você sempre acha que vai dar tudo errado!'. enquanto que, ao meu ver, essa visão é apenas uma forma meio radical de se estar preparado para o que der e vier. isso não quer dizer que otimistas não são julgados. não é sempre, mas são. por mim, pelo menos. eles recebem mais frases do tipo 'você já se fodeu uma vez com isso, vai tentar de novo?' ou 'você não cansa de ir atrás disso?' ou 'você realmente acha que vai conseguir isso?' a resposta do otimista em questão sempre será um sonoro 'SIM!!!'

(lembrando sempre que julgar alguma característica de alguém não é errado, desde que haja sempre respeito e um certo nível de aceitação de ambas as partes.)

bom, na minha singela opinião, insistir é pedir para cair. acredito que otimistas caem muito mais do que o mais profundo pessimista e, pra quem já achou alguma vez na vida (como eu achava) de que pessismistas são mais 'fortes' porque sempre estão preparados para o pior, é mentira. o tal 'forte' da história é o otimista, porque ele pode receber dez milhões de tapas na cara e nem por isso vai parar de tentar e tentar e tentar e encher o saco e tentar e cansar e tentar e insistir até...conseguir. enquanto o pessimista vai ficar esperando o pior, só esperando e não vai mover um dedo para que não lhe aconteça o pior que espera e, consequentemente, o melhor que poderia até acontecer. quem sabe.

explicando meu título, ser otimista é uma arte, pois não é para qualquer um.

conclusões da viagem da maionese:

1. TODAS as coisas podem dar errado a qualquer momento;
2. TODAS as mesmas coisas que, caso deem certo, vão acabar a qualquer momento também;
3. TODAS coisas que dão certo e demoram para acabar possuem consequencias (se são ruins ou boas, depende do ponto de vista);
4. 'coisas' e 'consequências' são grandezas proporcionais: quanto mais coisas, mais consequências e vice-versa.




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fim da viagem da maionese, câmbio, desligo porque o avião vai...BOOOM!