21.6.09

dias plurais

"Nos dias plurais, a hiperatividade está garantida, tudo se reproduz em formato de festival, o ócio adquire uma forma ditada pela maioria. É o lugar do número maior. Milhões de carros transitam ao mesmo tempo, uma pessoa pode conduzir dois de uma só vez, em um estranho concerto a quatro mãos e dois volantes. Nesses dias, as pessoas se desdobram para atingir o todo, multi-instrumentistas de uma proliferação sem freio. As vogais são para o ruído o que as consoantes são para a poluição, a cacofonia está garantida. Nesses dias, fala-se da terceira pessoa do plural, um novo organismo institucional que garantirá um colapso brutal de quem elege a prática masoquista contínua.

Nos dias plurais, as perguntas proliferam. A indústria farmacêutica cresce com a transformação dos cidadão em consumidores pelo vício e não pela necessidade. As conversas telefônicas são impossíveis, somente a escrita comunica.

Nesses dias, polifonia é tão alta que ninguém pode distiguir uma só voz.

Inadequados para o diálogo, abusamos das anotações.

No plural, os jogos em comum tornam-se quase perfeitos, um código erotômano que acontece alegremente."

Dias plurais são reconhecidos pelos excesso de energia. Positiva e negativa. Uma vontade estranha de falar tudo o que se quer, mesmo sabendo que não vai ser ouvido aquilo que se deseja. Nesses dias, as pessoas têm todas as respostas na ponta da língua, é quase impossível acompanhá-las pelos pensamento. As crianças crescem rápido, os jovens vivem muito e os velhos sabem demais.

A pluralidade é perfeita. Fala-se demais para muitos e fala-se ao mesmo tempo com os demais. Ouve-se o menor dos ruídos enquanto todas as músicas prediletas tocam.

O amor multiplica-se. Os Dons Juans conquistam aos montes nesses dias e os românticos - ah! coitados dos românticos - o amor deles fica no plural e são capazes de oferecer todas as rosas mais vermelhas em um único beijo à amada. Dias plurais são bons para declarações e relações. Mas esses dias também são sucetíveis para tempestades que fazem dos rômanticos, míseros piegas coitados e dos conquistadores, um bando de comedores. Raivas, brigas, discussões, foras. Todas no plural.

São dias em que a sensibilidade pluraliza-se.

É bom manter-se alegre, a pluralidade gosta da felicidade. Coisas boas, alegres, engraçadas, felizes.

A tristeza é singular. Não há palavras para ela. Nem nos dias plurais nem nunca. A tristeza é única.

Tudo no plural, a vontade é tanta que chega a transbordar.